quarta-feira, 19 de setembro de 2012

GAROTINHO E SUAS DECLARAÇÕES INFELIZES


Nos últimos dias o deputado Anthony Garotinho virou notícia ao demonstrar todo o seu preconceito em relação aos homossexuais. Revoltado com a liderança do Eduardo Paes (PMDB) na eleição do Rio, ele resolveu aparecer no horário eleitoral e soltar pérolas, chegando a inventar trechos bíblicos, como mostrou o blog "Opiniões" (AQUI).

Essa não é a primeira declaração infeliz de Anthony Garotinho em 2012. Em fevereiro ele misturou Dilma e Hitler em um mesmo discurso. Logo após a declaração de Garotinho, o escritor e jornalista Marcelo Carneiro da Cunha publicou este artigo:

Garotinho, Dilma e Hitler (Marcelo Carneiro da Cunha) 

Estimados leitores, não é todo dia que a gente tem o privilégio de ver uma mente como a do deputado Anthony Garotinho em funcionamento, talvez devido à baixa frequência com que esse fenômeno ocorre, quem sabe. Agora, por exemplo, nosso bravo deputado, vem dizer em alto e mau tom que nossa presidente pode ser comparada a Hitler. Dilma Rousseff? Hitler?
Segundo o deputado, assim como Dilma é popular, Hitler também o foi. O que eu imagino, a favor do deputado, é que com os eventuais neurônios atordoados, ele não faça ideia do que esteja dizendo. E, com a intenção de contribuir para com a formação, digamos, intelectual, do deputado, vamos tentar explicar a ele por que, se é que se pode comparar Hitler com alguma coisa, isso jamais seria possível ser feito com relação à nossa presidente.
Por exemplo, deputado, Dilma é uma mulher humanista, democrata, e culta. Ela seguramente é uma pessoa de convicções, mas soube trocar as que talvez tivesse aos 19 anos por teses mais de acordo com as ideias libertárias que foram se impondo ao longo do século 20. Hitler nunca mudou, nunca evoluiu, nunca deixou de acreditar no que acreditava, por mais insano e insensato que fosse - no que se parece sabe com quem, deputado?
A popularidade de Dilma e de Hitler vêm de origens absolutamente distintas e inversas. A origem da popularidade de Hitler não pode ser comparada com a de Dilma, mas pode sim ser comparada sabe com qual tipo de popularidade, estimado deputado Garotinho? Ora, com a sua, vejam só!
Hitler se tornou popular por oferecer promessas irrealizáveis a pessoas desesperadas. Ele também se tornou popular por propor a repressão a minorias indefesas. Não eram apenas os judeus, estimado deputado, mas os ciganos, por exemplo. Por quê? Quem entende a mente de um Hitler, caro deputado? Eu, por exemplo, não entendo. Assim como não entendo o ódio dele pelos homossexuais. Aliás, isso o senhor deve entender muito melhor do que eu, não é mesmo?
Hitler era um populista e prometia simplicidades. Soa familiar?
Quem lutou por justiça, foi presa e barbaramente torturada foi a Dilma, não foi? Que nunca usou isso para nada, nem a seu favor nem contra ninguém. Me parece muito digno, e talvez por isso ela seja popular, quem sabe? Já o senhor, na relação com a justiça, pelo menos a federal, foi condenado por formação de quadrilha, não foi? Quem se aproxima mais dos ideais cristãos? Cristo apoiaria gente que se torna popular promovendo a intolerância e a perseguição a inocentes?
Hitler se tornou popular por ser um monstro e cativar os monstros que vivem nas sociedades. Ele foi popular por explicar que todos os problemas eram causados pelos judeus, pelos ciganos, pelos eslavos, pelos homossexuais. Tão simples! O senhor nos diz que os problemas são causados pela falta de valores cristãos na sociedade, que basta eliminar os ímpios e pfffui, estaremos bem. Claro que, diferentemente dele, o senhor não quer eliminar ninguém pra valer, basta que eles sumam da vida pública e social e pronto, a paz reinará.
O nazismo era horrível porque se acreditava resultado de uma vontade praticamente divina, à qual todos deveriam se render, caro deputado. Nisso, o nazismo encontra similares sabe onde? Nas teocracias, onde o senhor se sentiria tão à vontade, desde que fosse a sua. Olhem o Irã, a Arábia Saudita, o Paquistão. Não foi no seu governo que se propôs que o estado passasse a pagar pela recuperação de gays? 
Hitler era um dinossauro, carnívoro. Não foi durante o seu governo do pobre estado do Rio de Janeiro que quiseram ensinar nas escolas públicas o estúpido criacionismo, no qual o senhor deve acreditar? Que diz que dinossauros, nós, todos vivemos juntos, livres e felizes há menos de 6 mil anos, mesmo que isso seja tão maluco que ninguém sério possa levar a sério? Nas escolas do Hitler se ensinava que os judeus não eram gente como a gente. O senhor se opõe a que as nossas escolas ensinem que todos somos igualmente gente. Qual a diferença? Explique aí.
Senhor deputado Garotinho, foi um prazer vê-lo tão bem disposto e fazendo tais declarações que mostram, mais do que tudo, que o senhor fica muito melhor quando fala somente do que entende. O que talvez demonstre, se não mais muita coisa, o quanto ficar calado lhe faz bem.

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